O educador hoje
“Os alunos não querem nada com nada!!!” “Eu não vejo a hora de me aposentar”, “não agüento mais esses alunos, eles não estudam, eles conversam demais, eles não fazem o tema...” Quem é educador, assim como eu, conhece muito bem essas frases, pois eles fazem parte do nosso cotidiano, já que são comuns nas salas dos professores das nossas escolas. Muitos momentos de recreio são permeados por frases radicais de colegas que estão saturados da situação atual de nossas salas de aula. Mas, o que fazer? A quem recorrer? De que forma agir? Onde buscar alternativas para amenizar o impacto negativo que atormenta a realidade de professores.
A situação que se enfrenta não é apenas um caso isolado, ou uma realidade específica de uma ou de outra unidade escolar que não consegue dar conta das personalidades rebeldes dos adolescentes “pós-contemporâneos”, mas é reflexo de mudanças na estrutura da sociedade atual. As famílias mudaram, a posição dos pais diante dos filhos mudou, o tempo de convivência é escasso. A junção destes fatores, causa impacto entre essas crianças que desde cedo, acostumaram-se a ficar sozinhas em frente a TV, que convivem com uma agenda cheia de atividades paralelas, de cursinhos e outros entretenimentos que lhes são oferecidos para que os pais possam trabalhar com mais tranqüilidade. Mas então, a culpa é da família?
Por outro lado, a escola mantém a mesma estrutura de ensino que fazia parte realidade dos educadores atuais quando eram alunos: cópias, quadro, giz, provas, conteúdos repassados, depois cobrados, numa educação bancária, segundo Paulo Freire. Os nativos tecnológicos, acostumados com as mais diversas formas de comunicação e tecnologia, não sentem-se atraídos a prestar atenção e se envolver com interesse em desperdiçar seu tempo desta forma. Assim, a escola se torna um peso, um fardo insuportável a ser obrigatoriamente carregado, por longos anos. Os professores são os culpados?
Porém, sabemos de relatos de alguns professores que buscam trazer para a escola as novas tecnologias e oportunizar aos alunos ações e atividades em aula de forma diferenciada, que também não surtiram o efeito esperado, muito menos o empenho e o envolvimento dos jovens. Então a culpa é do desinteresse dos alunos?
O início do problema está justamente aí, na tentativa de ficarmos buscando os culpados, de encontrar as causas e centrarmos nossas atenções nas queixas, e assim acabamos deixando para segundo plano o que realmente interessa: a solução. Problemas com comportamentos, com desinteresse, que no momento se apresentam de forma mais intensa e com elementos e situações nitidamente visíveis, sempre houveram. O que precisamos é buscar alternativas, e constantemente trabalharmos projetos que oportunizem à nossos alunos a construção do conhecimento.
Nossas escolas estão cada vez mais equipadas para atender a demanda do nosso alunado, laboratórios com internet, projetores, equipamentos de som, enfim, a percepção de que não se pode fugir das novas tecnologias já foi ultrapassada, e substituída pela leitura de que é necessários ensinar a usar, transformar todo esse potencial para a utilização das novas tecnologias em utilização inteligente e como oportunidade de crescimento e aprendizagem, ao invés de fofocas e besteiróis.
Neste sentido, esbarramos em outro problema: o despreparo do quadro atual docente para trabalhar, a resistência dos alunos em utilizar as tecnologias de forma a construir e auxiliar na construção do conhecimento, a infra-estrutura das escolas e o principal, a incompreensão das equipes diretivas, que muitas vezes interpretam de forma errônea a ação dos professores que buscam trabalhar de forma diferenciada da tradicional, ou mesmo, não viabilizam essa prática, dificultando os procedimentos.
No socorro a essa realidade, encontramos espaços que nos permitem discutir, nos ajudar e ampliar nossos conhecimentos em relação as mais diversas possibilidades de inovação na escola. Há uma preocupação por parte não só governamental, mas também se instituições de ensino superior, no sentido de oportunizar o aperfeiçoamento técnico dos profissionais que trabalham diariamente nas escolas, e que não podem ficar alheios as mudanças que a sociedade vem sofrendo.
Nosso papel nesta nova realidade é extremamente importante, já que nossos jovens estão perdidos com tanta informação, com tantas possibilidades. Eles já não lêem, pois não tem paciência de ficar virando as paginas uma após a outra, preferem sites, onde novos links podem ser acessados a cada nova linha, onde a rapidez é que dita as regras e deixam de lado algo importante para o desenvolvimento de seu intelecto, deixam de refletir sobre o que lêem, pois está tudo pronto na internet, deixam de produzir, pois já foi produzido. Basca apenas um ctrol C ctrol V e está tudo resolvido.
É neste espaço que o papel do professor/orientador é necessário, no instigar o aluno a refletir sobre suas ações, a ter um olhar crítico sobre o conteúdo disponível durante suas navegações, é auxiliar o aluno a perceber que está deixando de ser ele mesmo, de discutir, de produzir, de desenvolver suas potencialidades porque alguém já fez isso e é só copiar.
Então, a possibilidade de troca entre professor e aluno volta a existir e a ter sentido se observada desta forma. E como fazer isso? Entrando neste mundo da tecnologia com eles, trabalhando com eles as possibilidades que temos a disposição e desenvolvendo o olhar crítico para tudo que está a nossa volta. É puxarmos para a sala de aula aquilo que é proibido e o usarmos com responsabilidade.
Para que qualquer aula dê certo precisamos de um planejamento. Até para mudarmos na hora, para fazermos tudo diferente do que havíamos pensado, precisamos ter planejado antes. Então, imaginemos uma aula onde vamos utilizar aparelhos e tecnologias com as quais não estamos muito a vontade, e aqueles que teoricamente irão aprender conosco é que estão adaptados e elas. Precisamos ter claro o que vamos fazer, o que vamos usar, de que forma trabalhar e ainda testar antes para ver se funciona, se vai dar certo, pois a credibilidade no trabalho passa por isso e nossos alunos precisam ter confiança em nosso trabalho e em nosso planejamento.
Partindo daí, o primeiro passo está dado, a aproximação. É claro que chegarmos aí, precisamos de alguns pré requisitos, como estar disposto e buscar formação. Precisamos tomar cuidado também, para não ficarmos dedicando toda nossa atenção para as últimas tecnologias e deixarmos de lado mídias mais antigas, mas que tem sua importância dentro da escola e podem auxiliar de forma significativa no processo de aprendizagem de nossos alunos.
Uma destas mídias é o rádio, esse veículo de massa, apesar de ser preferencial entre as classes populares, continua sendo um veículo pouco investigado, bem menos que a imprensa e a televisão, muitas vezes quando trabalhado nas escolas, confundido apenas com o uso de músicas em sala de aula. Mas na verdade, trabalhar com rádio, vai muito além de simplesmente ouvir, analisar ou interpretar uma música. Trabalhar com o som, nos proporciona o desenvolvimento de uma percepção auditiva capaz de estimular nossa imaginação, desenvolve nosso censo critico, quando tomamos decisões sobre o que vamos permitir que vá ao ar, desenvolve nossa capacidade de decisão, de liderança, de argumentação, de oralidade.
Desde a primeira transmissão oficial radiofônica no país foi em setembro de 1922 com o discurso do então presidente Epitácio Pessoa na exposição comemorativa do Centenário da Independência que ocorreu no Rio de Janeiro, as rádios foram e continuam desempenhando um papel importante na sociedade. Em alguns momentos, mais importante ainda, já que sua função foi essencialmente educativa, sua programação girando em torno de músicas eruditas, mas posteriormente foi modificada, passando a transmitir musicas da época, caracterizando-se então por uma programação mais popular. E mesmo após tanto tempo, e com o surgimento de tantas outras tecnologias, o rádio continua a existir e encontrar sempre adeptos. Sendo assim, trabalhar na escola com rádios experimentais, oportunizar o conhecimento sobre esse meio de comunicação que sobrevive a tanto tempo sempre forte é importante.
Muitas experiências com rádios escolares são desenvolvidas no país, conhecemos algumas delas, umas que possuem um equipamento melhor, uma equipe com mais experiência, mas o mais importante, foi percebermos que com alguns equipamentos simples, que muitas vezes já existem nas escolas, junto com boa vontade, podemos realizar grande projetos nesta área.
Assim como o exemplo do rádio, a televisão pode também ser mais uma fonte de projetos, ainda mais hoje em dia onde nos próprios celulares há possibilidades de realizar gravações com uma ótima qualidade.
Outra atividade interessante pode ser criar um jornal escolar, num projeto assim, ocorre o desenvolvimento de todas as capacidades citadas acima e também o desenvolvimento da escrita e da capacidade argumentativa de nossos alunos, já que na sua maioria, lêem tão pouco nos dias atuais. De uma forma dinâmica, atraente e divertida estarão criando e divulgando suas experiências escolares.
Além destes exemplos de projetos que conhecemos, que compartilhamos, que experimentamos, o embasamento teórico é indispensável para a realização de qualquer projeto. Por isso, as leituras das diversos autores e dos tutoriais são muito importantes, mas além disso, as pesquisas que realizamos na busca de solucionar problemas, de realizar tarefas foram decisivas no estímulo a novas descobertas.
É claro que isso tudo não representa a solução para os problemas citados acima, mas com certeza oferecem uma possibilidade de mudança em uma realidade que preocupa a toda a comunidade escolar. A situação da educação atualmente não agrada a ninguém, se não estamos satisfeitos com tal realidade precisamos buscar soluções, buscar alternativas para mudá-la, e trabalhar com as novas tecnologias é um caminho a ser seguido, é uma possibilidade de mudança. Então, vamos buscar a transformação!